Algumas perguntas que me fazem com frequência
são:
- Qual é melhor, Windows ou Linux?
- Microsoft Office ou Libre Office?
- Photoshop ou Gimp?
Todas estas perguntas estão relacionadas à
seguinte questão principal: Qual tipo de software é melhor, proprietário ou
livre?
Há argumentos favorecendo ambos os lados, e
fanáticos defendem com unhas e dentes suas posições. Já vi
analistas Linux rasgarem seus certificados Microsoft e profissionais
Windows desprezarem o Linux sem nunca terem mexido em um. E o
problema todo se resume a duas simples verdades: falta de
conhecimento e preconceito.
Quando me perguntam qual sistema é melhor eu
replico: Melhor pra quem? Melhor em qual situação? Dizer qual
sistema é melhor depende mais do ambiente onde ele será operado do
que do software em si. E esse artigo pretende mostrar as vantagens e
desvantagens do uso de softwares livre, e do Linux, para as mais
variadas situações, ambientes e pessoas, como por exemplo:
- Governos
- Empresas
- Desenvolvedores
- Gamers
- Vendedores de softwares
- Usuários comuns
O software livre abre as portas para que
empreendedores nacionais cresçam dando suporte, treinamento,
consultoria e personalização de sistemas abertos sem gastarem com
licenças à empresas estrangeiras, gerando lucro e emprego. Temos
vários exemplos no Brasil de empresas que foram criadas com base
nesse modelo e hoje são referência na área tecnológica. Além
disso, o investimento que o governo faz em software livre, quer seja
com suporte a sistema, quer seja com desenvolvimento de funções,
gera lucro para empresas nacionais, evitando a evasão de divisas.
Além disso, o conhecimento tecnológico é disceminado na região.
Ou seja, a população se beneficia pois aprende como os sistemas
funcionam. O governo não fica à mercê de empresas estrangeiras que
tem como objetivo o lucro e realmente não se importam com o país. O
governo não fica dependente de uma empresa, como acontece com o
software proprietário, pois se uma empresa não presta um bom
serviço, outra poderá dar suporte ao sistema, se ele for livre.
Com software proprietário não é possível fazer
auditoria de sistema. Como não temos acesso ao código fonte é
necessário confiar na empresa fornecedora. Mas com o software livre
você sabe o que extamente o programa faz, e como faz. Há algum
tempo tivemos um escândalo envolvendo a NSA, a agência de segurança
americana, onde ficou provado que ela espiona vários sistemas no
mundo, e que várias empresas desenvolvem software já com brechas
conhecidas pela agência. Com software livre você pode verificar
todo o código do programa, e pode até modificá-lo para deixá-lo
mais seguro ou para atender a um requisito. Com isso o governo pode
ser mais transparente.
Com software livre o governo pode instalar os
programas em qualquer situação, instituição e equipamento sem se
preocupar com licitações e outras burocracias. Não é necessário
autorização (do ponto de vista do licenciamento), nem contratos ou
outras formalidades. O governo ganha em agilidade.
Empresas
A primeira e óbvia vantagem para empresas é a
economia com licenças. São poucas empresas no Brasil que conseguem
manter seus softwares todos legalizados. Atualizá-los a cada 1 ou 2
anos é muito caro, sem contar as dificuldades técnicas. As pessoas
em geral não têm noção dos custos. Uma licença do Microsoft
Office pode chegar a R$1.200,00 (preço de 2017). Uma empresa de porte
médio com 100 desktops gastaria R$120.000,00, só com licenças do
Office. Junte-se a isso o Antivírus, algumas licenças de CRM e ERP,
Exchange, SQL, software de editoração, etc. Um micro usual tem
cerca de R$5.000,00 só de licenças, e sem contar o contrato de
suporte.
Com software livre isso não acontece. Você não
precisa pagar por licenças de uso, nem dar safistação a ninguém
sobre como o programa está sendo usado.
Usando software livre a empresa não fica presa a
fornecedores. Um exemplo típico é o que acontece com softwares de
ERP, como a SAP. Uma vêz implantado fica difícil trocar a empresa
de suporte pois geralmente somente uma empresa presta suporte ao
programa em uma região. Trocar o software acaba sendo extremamente
complicado, custoso e demorado. Se o software for livre qualquer
empresa pode prestar suporte ao programa. Se um fornecedor não
presta em bom atendimento podemos trocar por outro, mantendo ou não
o software.
Outra grande vantagem para empresas é a liberdade
para testar o programa exaustivamente antes de colocá-lo em
produção. Não é necessário licenças trial, nem prazos para
testes. Tudo pode ser testado e, se a empresa tiver pessoal
capacitado, pode fazer os ajustes que forem necessários.
Sempre vejo a correria do pessoal da área de TI
quando uma auditoria questiona sobre uma licença para um programa em
especial. Levantamentos sobre quantidades de licenças e total de
instalações feitas quase sempre geram informações inconsistentes.
Esse problema não ocorre com o programa livre.
Mas nem tudo são flores. A mudança pode gerar
desconforto para teus usuários. Por exemplo, a migração de Windows
para Linux vai sofrer grande resistência por parte dos funcionários. O
usuário está acostumado com aquele sistema e isso gera problemas.
Embora o usuário também vai precisar de treinamento para aquela
nova versão do Windows (algo que aconteceu quando viemos do Windows
3.11 para o 95, do 98 para o XP e do Windows 7 para o 10) o usuário
sente que está aprendendo “uma nova versão melhorada” do
sistema. Aprender um novo sistema soa como “esse sistema sempre
funcionou, porque mudar?”. Não só os usuários são preguiçosos
para aprender, mas nós também somos. Não gostamos da idéia de
mudar para aquela outra linguagem de programação. Dominamos a
antiga, por que mudar para outra?
E não é por ser geralmente grátis que não há
custos. Há sim um gasto com treinamento. Treinamento das equipes de
TI, de suporte e de desenvolvimento, além dos próprios usuários.
Esses treinamentos podem ser feitos por empresas especializadas ou
pelos próprios funcionários da área de informática. Mas sempre
vai haver um custo, quer seja financeito, quer seja de tempo,
preparação de sala, separação de equipamentos, confecção de
apostilas, etc.
Essas são questões importantes a serem levadas
em conta quando o assunto é software livre. Podemos usar a questão
financeira (cada centro de custo deve arcar com o custo do software)
e a questão da ideologia, mas cada empresa deverá avaliar onde e
como o software livre deverá ser implantado.
Desenvolvedores
Embora eu não seja a melhor pessoa para falar
sobre desenvolvimento de software, durante uma época da minha carreira eu fui
programador e sempre me via às voltas com programas fabulosos e eu
pensava: “como o cara conseguiu desenvolver isso?”. Às vezes
passava dias, semanas desenvolvendo uma rotina que fizesse algo
parecido com o que eu tinha visto, e geralmente o resultado não era
tão bom. Se o software fosse livre, ou pelo menos de código aberto,
eu poderia olhar o código e saber como o programador desenvolvera
aquela função. Semanas de trabalho poderiam ser poupadas em poucas
horas. Essa é a grande vantagem para o desenvolvedor. Ao invés de
reinventar a roda pode-se investir o tempo melhorando-a.
Se existe um programa ou função que só funciona
em um sistema operacional, se o programa for fechado você vai
depender que desenvolvedor (diga-se dono) para lançar uma versão
compatível com outro sistema. Caso o programa seja livre, você
mesmo poderá adaptá-lo ao sistema operacional que você usa. Com
código proprietário isso não é possível.
Gamers
É uma verdade que jogos são lançados primeiro
em Windows. A base instalada é maior. Portanto, se você é um
jogador que sempre quer a última versão dos jogos, o Linux pode não
ser para você. Geralmente as versões para Linux demoram mais para
serem lançadas, ou às vezes nem saem, caso do GTA.
Outro problema é que a Nvidia não possui módulos
para Linux. Isso dificulta, e até impede que jogos mais pesados
funcinem no Linux.
Embora a Valve, através da Steam, tenha diminuído
esse problema, o fato é que muitos jogos simplesmente não vão
rodar no Linux, alguns vão rodar com desempenho inferior. Portanto,
se você é um gamer, o Linux pode não ser pra você. Pelo menos por
enquanto.
Vendedores de softwares
Se você tem uma empresa que revende software,
então o Linux pode não ser para você. Embora o Linux possa ser
vendido, o forte dele é a consultoria e suporte. Se você quer
trabalhar com Linux então o foco precisa ser mudado. Consultoria,
suporte, migração de ambientes e implantações são apenas alguns
pontos que podem ser levados em conta. Simplesmente vender Linux não
vai te dar o retorno esperado.
Demais usuários
Se você é um usuários digamos “normal”, que
faz pesquisas no Google, acessa redes sociais, faz documentos,
apresentações e planilhas e usa uns joguinhos de vêz em quando,
então o Linux pode te atender plenamente. É verdade que os
programas são diferentes. Afinal, se você quer um programa que seja
idêntico ao Microsoft Office use o Microsoft Office! O preconceito,
o medo de tentar e a preguiça em aprender o novo são os maiores
inimigos do software livre.
No caso de ferramentas do tipo “Office”, o
Libre Office é a melhor opção para o mercado brasileiro. As telas
são muito parecidas com o Office da Microsoft, mas algumas opções
não estarão nos mesmos lugares, embora com um pouquinho de pesquisa
você encontrará o que precisa.
Uma das maiores alegações dos defensores do
Microsoft Office é que o formato DOC não é totalmente compatível
com o Libre Office. Isso em partes é verdade; alguns documentos
podem não abrir exatamente como deveria. Mas isso também ocorre com
as inúmeras versões do Microsoft Office. Um documento, apresentação
ou planilha feito numa versão do Microsoft Office não vai abrir
exatamente como deveria em outra versão. Se nem a Microsoft mantém
a compatibilidade porque esperar que o Libre Office ou qualquer outra
solução seja compatível?
Outra ferramenta que sofre com o preconceito é o
Gimp. Não sou especialista em software de editoração, mas as
poucas pessoas que conhecem bem Photoshop e buscaram aprender o Gimp
dizem que o programa é tão bom quanto o Photoshop, mas que é
preciso gastar um tempo aprendendo a mexer na ferramenta. E é essa
“perda” de tempo que impede que o Gimp seja usado no lugar do
Photoshop. Já vi gente exigindo o Photoshop para apenas criar um
Wordart no Microsoft Office, copiar para o Photoshop, mudar alguns
tons de cor e salvar no padrão “Photoshop” só para dizer que
foi feito numa plataforma de editoração especializada. O Gimp
poderia muito bem ter sido usado.
Uma das vantagens do Linux em relação ao Windows
é que ele não contém vírus. Alguns críticos dirão que todo
sistema operacional contém vírus, mas se formos buscar o termo
técnico que define vírus você verá que ele não existe no Linux.
O que existe são malware. Vírus é um tipo de malware. Para um
sistema ser classificado como vírus ele precisa se replicar sem
qualquer interação com o usuário. Se o usuário precisa clicar em
algo, abrir um documento ou fazer qualquer outra ação, então isso
não é virus. Pode ser worm, backdoor, etc. Mas isso é outra
questão. O que acontece na prática é que o número de malware para
Linux ainda é muito pequeno, e seu alcance é limitado. Geralmente a
instalação padrão do Linux é mais segura do que a instalação
padrão do Windows. Não quero dizer com isso que o Linux é mais
seguro do que o Windows. A segurança depende de quem configura e/ou
usa o sistema.
Agora que você viu as vantagens e desvantagens do Linux, vamos falar um pouco sobre os mitos e verdades do sistema nos próximos artigos.
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